A iniciativa do grupo constituído por membros da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi ainda reconhecida com vários outros prémios. Em 2022 foi distinguida com o melhor trabalho científico em saúde digestiva pelo Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG 2022) e em 2023 como melhor apresentação no Congresso Mundial de Cancro Anal (IANS 2023). Além disso, recebeu o prémio de melhor investigação clínica, atribuído pela Ordem dos Médicos (prémio carregosa/SRNOM 2023), que inclui não só a especialidade de Gastrenterologia, mas todas as especialidades médicas.

“Para nós, enquanto gastrenterologistas e coloproctologistas, esta distinção evidencia o relevo do projeto, que competiu com excelentes trabalhos na área da saúde cardiovascular, da saúde endocrinológica, e de múltiplas especialidades médicas”, começa por afirmar Miguel Mascarenhas. “Foi considerado o melhor trabalho de investigação clínica em Portugal, e tendo em conta a elevada qualidade dos trabalhos que também estavam a ser avaliados pelo júri, é algo que nos orgulha e mostra o interesse que a comunidade médica e científica atribui à importância da IA, sobretudo no papel de prevenção e diagnóstico deste tipo de lesões”.

De momento, é impossível saber se uma lesão é de baixo grau ou de alto grau sem efetuar uma biópsia. “Mesmo utilizando várias técnicas de coloração, como o ácido acético e o lugol, as características das lesões não são patognomónicas, ou seja, não são totalmente específicas”.

Neste sentido, a nova tecnologia desenvolvida pelo grupo é capaz de detetar, “com mais de 95% de certeza, sem necessidade de biópsia, se a lesão é de baixo grau ou de alto grau”, sendo que esta última requer tratamento.

“Este é o valor que a tecnologia adiciona à prática clínica, sendo uma potencial mais-valia na prevenção do cancro anal. A capacidade de detetar e diferenciar lesões precursores com métricas de performance diagnóstica superior a 95% permite ganhos superlativos face ao atual estado da arte. Além disso, ao conseguirmos que este modelo funcione mesmo após tratamento e sem coloração, pode ser útil também de modo a guiar o tratamento da lesão”, sugere Miguel Mascarenhas.

Quer isto dizer que quando o tratamento é realizado, não existem certezas de que, efetivamente, toda a zona de lesão está tratada. Porém, “com a utilização da IA será possível verificar se toda a lesão foi removida nesse contexto”.

O investigador salienta que existem elevados ganhos diagnósticos com esta iniciativa, existindo ainda possíveis elevados ganhos terapêuticos de futuro. “Com isto conseguimos aumentar as métricas de performance diagnóstica em prevenção do cancro anal e evitar a progressão de muitas destas lesões pré-malignas para o cancro, que é o objetivo da realização deste exame”, afirma.

“No fundo, pretendemos trazer o melhor que a tecnologia nos pode permitir, ao serviço dos nossos doentes, que é o nosso maior desígnio enquanto médicos: proporcionar melhores cuidados de saúde e ganhos diagnósticos, evitar a progressão destas lesões para cancro anal e, assim, salvar vidas”.

Miguel Mascarenhas afirma que esta tecnologia já se encontra a ser validada e implementada em vários centros, desde Portugal, Espanha, França, Itália, Brasil e Estados Unidos.

O projeto conta com dois artigos publicados, “o primeiro em 2022 numa das revistas de maior impacto de Coloproctologia, o Techniques in Coloproctology, e este ano, em 2024, no início do ano, foi publicado um segundo artigo na revista do Colégio Americano de Gastrenterologia, do primeiro quartil de Gastrenterologia, o Clinical and Translational Gastroenterology”.

“Atualmente o nosso objetivo é recolher os resultados de validação feitos nos centros e ter um estudo multicêntrico, com diferentes tipos de técnicas, com maior número de casos e maior número de diferentes populações”. Com isto, explica Miguel Mascarenhas, pretende-se “provar e aferir o impacto que esta tecnologia tem em termos do número de evoluções pré-malignas cuja IA permitiu que não escapassem”.

“Os próximos passos passam por validar a tecnologia em mais centros para que, de futuro, seja possível tornar esta tecnologia disponível a vários centros para que todas as pessoas no mundo tenham acesso à mesma”, conclui Miguel Mascarenhas.

CG

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