Qual a prevalência atual da obesidade em Portugal? Os números são preocupantes?
Portugal acompanha a tendência do Ocidente no que respeita ao peso, sendo que mais de metade da sua população apresenta excesso de peso e cerca de 1/3 já conta com critérios de obesidade. Só recentemente a perceção deste problema tem sido alvo da devida atenção por parte de todos os responsáveis (clínicos, políticos e população geral), sendo o momento atual comparável à tentativa de travagem de um comboio em movimento: os esforços só começarão a dar frutos num futuro que desejamos o mais próximo possível. Não cessam de aumentar as evidências sobre o impacto real desta doença crónica e progressiva, com múltiplas causas genéticas, comportamentais e sociais, com mais de 200 doenças que lhe estão direta ou indiretamente associadas. Há muito tempo que conhecíamos os efeitos metabólicos do excesso de peso e as consequências no risco cardiovascular e de diabetes porém, só recentemente passámos a conhecer o impacto que também existe no risco oncológico e de morte por cancro.
“A prevenção e o combate precoce deste problema passou a ser uma das prioridades mais relevantes de todos os organismos de cuidados de saúde.”
Qual é a importância de os hospitais incluírem um Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) específico para a obesidade?
Os CRI surgem quando os conselhos de administração (CA) veem uma determinada área com défice de resposta. A ponderação de CRI vocacionados para o tratamento de obesidade evidencia uma adequada perceção deste problema por parte dos CA, bem como um notável reforço dos meios para aumentar a capacidade de resposta a doentes para os quais todas as medidas conservadoras de tratamento da obesidade são comprovadamente insuficientes para um tratamento eficaz e sustentado no tempo. Quando se constituem CRI de obesidade robustecemos a capacidade de resposta ao alocarmos recursos, organização e incentivos à produtividade numa área de tratamento deficitária e capaz de exercer um grande impacto na saúde dos nossos doentes. Podemos falar numa lufada de ar fresco na organização do SNS e num sinal claro de aposta num tipo de solução terapêutica que aumenta a qualidade de vida e o tempo de vida dos doentes de uma forma segura e unanimemente aceite como muito significativa.
O que distingue o CHUSJ em relação a outros centros hospitalares no que diz respeito ao tratamento da obesidade?
O CRI de obesidade da ULS São João distingue-se dos demais pelo volume de cirurgias (o maior do país) e pela capacidade multidisciplinar de intervenção com soluções farmacológicas, endoscópicas, cirúrgicas e de intervenção nutricional e comportamental que seguem os mais elevados parâmetros de qualidade internacionais. Temos um programa multidisciplinar de investigação clínica e de formação e apoio a outros centros nacionais que é reconhecido pelos nossos pares e que iremos internacionalizar durante o ano de 2024.
No entanto, o tratamento da obesidade no nosso país encontra-se razoavelmente bem organizado e desenvolvido com vários grupos muito bem posicionados, também a nível internacional, posicionando Portugal numa posição globalmente forte nesta área clínica.
Com uma contratualização anual participada por todos os profissionais envolvidos, que recebem incentivos de acordo com o volume e qualidade do seu trabalho, triplicámos o número de cirurgias e consultas ao longo dos últimos 5 anos, algo que nos deixa particularmente orgulhosos.
Atualmente existem inovações no campo dos tratamentos e das cirurgias que visam combater a obesidade?
O tratamento da obesidade tem sofrido uma grande evolução à medida que os conhecimentos científicos nesta área se vão multiplicando. Atualmente, temos múltiplas e ambiciosas soluções cirúrgicas, seguras e confortáveis para o doente, capazes de resultados ambiciosos e sustentados. A par destas soluções, tem surgido um grande desenvolvimento nas opções farmacológicas e endoscópicas que nos proporcionam formas de tratamento integrado, particularmente eficazes e customizadas às características específicas de cada doente.
“Atribuímos prioridade à gestão do peso do doente ao longo da sua vida, estabelecendo estratégias de tratamento orientadas para a realidade de uma doença crónica e progressiva.”
Cláudia Gomes
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