Qual o papel do fisioterapeuta na equipa multidisciplinar de reabilitação respiratória?
A reabilitação respiratória é uma intervenção abrangente, dirigida aos doentes respiratórios, e tem como objetivo não só reduzir os sintomas, como o cansaço e a dificuldade respiratória, mas também a melhoria da condição física e a adesão a longo prazo a comportamentos promotores de saúde (adesão à terapêutica farmacológica prescrita, cessação tabágica, alimentação saudável e exercício físico regular).
Para atingir estes objetivos a equipa deve incluir um conjunto de profissionais habilitados nesta área (médico pneumologista, fisioterapeuta, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, entre outros), que trabalhando em conjunto e de forma interdisciplinar, fazem uma avaliação rigorosa do estado de saúde do doente e desenham um programa de reabilitação individualizado, com foco nas suas necessidades.
Das diferentes disciplinas envolvidas neste processo, o fisioterapeuta tem competências na melhoria da ventilação e das trocas gasosas, na manutenção da permeabilidade das vias aéreas, na melhoria ou manutenção da mobilidade, do equilíbrio e da funcionalidade, na implementação de um programa de exercício estruturado de acordo com as limitações e necessidades do doente, e na promoção da atividade física regular. Tem ainda um papel ativo no ensino e no aconselhamento para a gestão de sintomas, reconhecimento precoce de exacerbações e sensibilização para a adesão a comportamentos promotores de saúde.
Quais os maiores desafios no tratamento destes doentes?
Desde logo, a disponibilidade de programas de reabilitação que sejam acessíveis aos doentes. Depois, a disponibilidade do doente e família de participarem no programa de reabilitação, uma vez que estes programas devem ter uma duração mínima de, pelo menos, seis a oito semanas (sabendo nós que programas mais extensos de dois a três meses apresentam maiores benefícios), com uma frequência de dois a três vezes por semana, o que em termos de tempo e de deslocação pode representar uma limitação.
Por outro lado, o próprio objetivo do programa, de quebrar o ciclo vicioso de dispneia, sedentarismo e deterioração progressiva da capacidade física gerando ainda mais dispneia, é um grande desafio, uma vez que implica levar o doente a sair da sua zona de conforto e confrontar-se, ainda que de forma controlada, com os seus sintomas, nomeadamente a dispneia, causadora de grande angústia, ansiedade e medo.
Também as questões relacionadas com a ansiedade e depressão, presentes em grande parte da população com doença respiratória, se colocam muitas vezes como um desafio à aprendizagem e à mudança de comportamentos. Aqui, o apoio da Psicologia ao doente e à equipa é fundamental.
No final do programa o desafio é a manutenção dos benefícios. Se não existirem estratégias de manutenção após os programas estes benefícios tendem a diminuir ao fim de um período de seis a 12 meses. Ou seja, se não se mantiverem as estratégias implementadas, os ganhos são reversíveis.
“Se não houver uma continuidade de acompanhamento nesta fase, o investimento do doente, das famílias e das instituições perde-se.”
Que tipo de exercícios realizam?
Estes programas incluem sempre treino de exercício (aeróbio, força, equilíbrio, flexibilidade) supervisionado, onde se garante um acompanhamento seguro e eficaz, alinhado com as preferências do doente.
Incluem ainda momentos de educação para a saúde ministradas individualmente, ou em grupo, que visam dar ao doente as ferramentas necessárias para gerir melhor a sua doença. Por exemplo, ensinar a forma correta de fazer os inaladores, o reconhecimento e o controlo das exacerbações, assim como exercícios respiratórios específicos para controlar a sensação de dificuldade respiratória (técnicas de controlo ventilatório e de conservação de energia) e para manter uma boa saúde respiratória (técnicas de higiene brônquica que podem ser realizadas com, ou sem recurso, a estratégias instrumentais, como dispositivos médicos de pressão expiratória positiva, com ou sem oscilação, e equipamentos de tosse assistida).
“Todos estes exercícios são selecionados e realizados de acordo com as limitações e necessidades identificadas aquando da avaliação inicial em equipa e reavaliações subsequentes.”
Alguns exercícios são realizados em casa? Que tipo de apoio é dado ou deveria ser dado nesse sentido?
Há vários contextos em que a reabilitação respiratória pode ser implementada: internamento, ambulatório, domicílio, ou recorrendo às novas tecnologias de informação e comunicação através da telerreabilitação.
Todas estas formas de realizar programas são válidas, com resultados confirmados na literatura, mas o regime em que se realizam deve ter em conta vários aspetos individuais, nomeadamente a gravidade da doença, as preferências do doente, a sua capacidade de mobilidade, a autonomia, o domínio das novas tecnologias, a disponibilidade de programas presenciais na área de residência, entre outras.
Desta forma, sim, todos os exercícios propostos num programa estruturado em ambiente de ambulatório, ou clínica especializada, podem ser realizados em casa com as adaptações necessárias. Inicialmente, a realização deve ser feita com supervisão da equipa de reabilitação, presencialmente ou à distância (por telerreabilitação) e, numa fase de manutenção, de forma autónoma.
CG
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