Segundo as conclusões do estudo, nas últimas duas décadas o consumo total de antibióticos nos seres humanos aumentou modestamente nos países da OCDE e da União Europeia/Espaço Económico Europeu (UE/EEE), mas aumentou substancialmente nos países do G20 (grupo das 20 maiores economias) não pertencentes à OCDE.

Ao mesmo tempo, indica o relatório, o consumo de antibióticos de último recurso aumentou mais rapidamente do que o consumo total destes medicamentos.

O consumo de agentes antimicrobianos em animais diminuiu para metade entre 2000 e 2019 na OCDE e poderá registar-se uma redução adicional de 10 % até 2035, mas a venda de antimicrobianos veterinários no G20 pode ser quase o dobro das vendas na OCDE, depois de ajustada à dimensão da população pecuária.

O relatório adverte que, sem uma ação eficaz, a resistência aos antibióticos de terceira linha poderá ser 2,1 vezes superior em 2035 em comparação com 2005, tornando “substancialmente mais difícil” o tratamento de infeções como a pneumonia e infeções da corrente sanguínea.

“Para certos países e para certos pares antibiótico-bactéria, incluindo algumas que são adquiridas em ambientes hospitalares, até 90% das infeções serão resistentes”, conclui o relatório, observando que os organismos resistentes aos antimicrobianos são responsáveis por cerca de 79 mil mortes por ano.

O custo anual total dos micro-organismos multirresistentes em 34 países da OCDE e da União Europeia (UE)/Espaço Económico Europeu (EEE) é de cerca de 58 dólares (cerca de 54 euros) por habitante, tendo em conta a paridade do poder de compra.

“Cerca de um terço destes custos deve-se ao aumento das despesas de saúde e o restante à redução da produtividade da mão de obra”, refere o relatório, que indica ainda que as infeções resistentes adquiridas nos cuidados de saúde são responsáveis por 60% de todas as mortes e representam cerca de um terço de todas as infeções resistentes.

O relatório sublinha que a maioria dos países da OCDE, da UE/EEE e do G20 desenvolveram planos de ação nacionais para combater a resistência microbiana, mas apenas uma fração deles incorporou mecanismos financeiros para implementar os seus planos.

O estudo enfatiza que reforçar a aplicação a nível nacional das melhores práticas no domínio da saúde humana e animal, dos sistemas agroalimentares e do ambiente e a melhoria dos sistemas de vigilância são as principais prioridades de ação e defende que os programas destinados a promover a utilização prudente de antibióticos e o reforço da higiene das mãos e do ambiente nos estabelecimentos de saúde evitam o maior número de mortes devido a infeções multirresistentes.

Além da saúde humana, propõe também o reforço das práticas de manipulação dos alimentos e a melhoria da biossegurança nas explorações agrícolas como forma de reduzir as infeções resistentes, assinalando que todas estas intervenções são eficazes em termos de custos.

O estudo considera que uma abordagem política multidisciplinar, denominada “Uma Só Saúde”, é acessível, indicando que em 34 países da OCDE e da UE/EEE, o investimento anual de cerca de quatro dólares (cerca de 3,75 euros) ‘per capita’ num pacote misto aplicado nos setores da saúde humana e da alimentação poderia evitar mais de 17 mil mortes, poupar mais de 9,4 mil milhões de dólares em despesas de saúde e render cerca de 13,8 mil milhões de dólares em ganhos económicos através de uma maior participação na força de trabalho e produtividade.

Com maior detalhe, o estudo menciona que o consumo de antibióticos nos seres humanos tem vindo a aumentar nos últimos 20 anos, sendo que na OCDE e na UE/EEE as vendas de todas as classes de antibióticos aumentaram ligeiramente em cerca de 2% entre 2000 e 2019.

“Durante este período, o consumo de antibióticos de último recurso aumentou mais rapidamente do que o consumo total. Por exemplo, o consumo de antibióticos da classe das ‘polimixinas’ registou um aumento de 67% entre 2011 e 2020 nos países da UE/EEE. Os países do G20 não pertencentes à OCDE, que historicamente tinham níveis mais baixos de consumo de antimicrobianos, convergiram para os níveis da OCDE e da UE/EEE”, acentua o estudo.

Entre 2000 e 2019, as vendas médias de todas as classes de agentes antimicrobianos utilizados na produção de carne diminuíram a nível mundial e baixaram para metade na OCDE, passando de 181 para 91 mg de agentes antimicrobianos por quilograma de animal destinado à alimentação humana. A maior parte deste declínio registou-se desde 2014.

As projeções da OCDE sugerem que, se as tendências atuais se mantiverem, o consumo de agentes antimicrobianos em animais poderá diminuir 10% na OCDE entre 2020 e 2035.

Porém, a maior parte das vendas de agentes antimicrobianos veterinários ocorre fora da OCDE, prevendo-se que as vendas no G20 deverão duplicar a média da OCDE até 2035, após um ajustamento em função da dimensão da população pecuária.

LUSA

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