Fotos: Equipa do Hospital de Dia de Patologia do Sono (HDS)

Noites mal dormidas, cansaço e sonolência durante o dia podem ser sintomas da SAOS. A patologia, muito associada ao ressonar durante a noite, tem “forte impacto” na vida do doente, sendo necessário, nas fases mais avançadas, ventilação não-invasiva (VNI).

No Hospital Distrital de Santarém, face ao aumento da procura da Consulta de SAOS, e às dificuldades de adaptação à VNI, avançou-se, desde junho, com o projeto-piloto de um Hospital de Dia de Patologia do Sono. “Em 90% dos casos, os problemas de sono estão relacionados com SAOS, trata-se de um verdadeiro problema de saúde pública”, diz Gustavo Reis, pneumologista e coordenador deste projeto-piloto.

Esta valência, que integra a consulta de Enfermagem e a consulta de seguimento de VNI realizada pelo técnico superior de diagnóstico e terapêutica (TSDT) de Cardiopneumologia, visa acompanhar os doentes da Consulta de Patologia do Sono sob terapia com dispositivos de VNI domiciliária. “A implementação do Hospital de Dia promove a proximidade do utente à instituição e à equipa de profissionais de saúde envolvidos”, frisa o médico.

Como acrescenta: “Não é fácil receber a notícia de que se terá de dormir com VNI e com este acompanhamento é possível estar mais tempo com o doente.”

Que o diga a TSDT Eva Rodrigues, que procura, na sua intervenção, esclarecer todas as dúvidas. “O facto de podermos estar uma hora com a pessoa no Hospital de Dia, isso faz com que se sinta mais à-vontade para falar e para esclarecer dúvidas.”

Este apoio contribui para uma melhor adesão ao tratamento e para desmistificar alguns estereótipos em torno da VNI. “Muitos conhecem vizinhos ou amigos que usaram a VNI há uns anos, quando os equipamentos eram de maior dimensão e mais ruidosos; contudo, atualmente, houve melhorias significativas nesse âmbito.”

Quanto à adaptação, Eva Rodrigues diz que se quase se pode dividir os pacientes em dois grupos: os que têm sérias complicações por causa da SAOS e os que ainda não se aperceberam da doença e que vão ao médico porque o companheiro não aguenta o ressonar durante a noite. “Os primeiros aderem mais facilmente; os outros levam mais tempo.”

Todo este trabalho é conjugado com o da enfermeira Ana Pires. “Pela proximidade com os utentes, a Enfermagem promove uma mudança comportamental, centrada no âmbito educacional, e a adesão à ventiloterapia”, especifica. Sublinha ainda a importância da colheita de dados objetivos que, afirma, constituírem “informações relevantes para os cuidados de Enfermagem em articulação com toda a equipa de profissionais de saúde”.

Mais que tratar, deve-se prevenir

O projeto-piloto de três meses tem permitido ajudar 180 doentes com patologia do sono, sendo 90% dos casos de SAOS. Face aos bons resultados, Gustavo Reis espera que ainda em setembro se consiga alargar esta valência a todos os colegas que trabalham a patologia do sono. “O objetivo é estender o horário de funcionamento do Hospital de Dia de Patologia do Sono, de modo que funcione todos os dias da semana.”

Apesar de satisfeito com os resultados alcançados, o médico pneumologista lembra que o melhor é mesmo prevenir uma patologia que tem aumentado também por causa de estilos de vida pouco saudáveis. “É fundamental não fumar, evitar o excesso de peso, praticar exercício e adotar medidas de higiene do sono.”

Alguns casos de SAOS podem mesmo ser revertidos com hábitos saudáveis. “Mas, para tal, é preciso que haja um diagnóstico precoce”, alerta. “Se se acorda cansado, se o sono é intermitente, se existem queixas do companheiro ou companheira de que se ressona deve-se pedir ajuda médica.”

No que diz respeito ao ressonar, o especialista sublinha as diferenças que existem entre homens e mulheres. “É mais difícil para uma mulher admiti-lo; contudo, mesmo que a SAOS seja muito mais frequente no sexo masculino, isso não significa que não possa afetar o sexo feminino.”

Pedir ajuda evita o recurso a VNI para dormir, mas também acidentes rodoviários e laborais. “O sono e o cansaço podem provocar este tipo de situações, daí o foco que se deve ter na prevenção e no diagnóstico precoce”, conclui.

Texto: Maria João Garcia

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