Secura da boca e dos olhos, fadiga e dores articulares são os três sintomas comuns a quem é diagnosticado com síndrome de Sjögren. As causas são desconhecidas e, apesar de surgir em diferentes idades, as mulheres na pós-menopausa são as mais afetadas. “Trata-se de uma doença imunomediada crónica caracterizada pela desregulação do sistema imunitário, que ataca tecidos e órgãos saudáveis, em particular as glândulas salivares e lacrimais, conduzindo a um processo inflamatório crónico”, explica Vasco C. Romão, reumatologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULN).

O médico, que se tem dedicado nos últimos anos a esta síndrome, alerta para a importância do diagnóstico precoce de uma condição clínica que continua a ser “subdiagnosticada”, apesar de poder afetar múltiplos órgãos. “As pessoas tendem a desvalorizar os sintomas iniciais, nomeadamente a secura, o cansaço e as dores, porque associam a outras causas: trabalho, medicamentos, etc.”

Sedo rara, também tem de ser feito todo um trabalho de sensibilização e (in) formação junto dos médicos de diferentes especialidades. “Sempre que exista essa tríade sintomática, deve-se suspeitar de Sjögren, embora, obviamente, o diagnóstico tenha de ser confirmado com base em alguns exames e na história clínica.”

Consulta multidisciplinar dá apoio a doentes

É precisamente para chegar ao diagnóstico e ao tratamento mais adequado – mesmo não havendo cura – que Vasco C. Romão e alguns colegas do CHULN integram a Consulta de Síndrome de Sjögren no Hospital de Santa Maria. Criada em 2016, decorre uma vez por semana, entre as 8h e as 11h, e envolve a Reumatologia, a Estomatologia e a Oftalmologia.

Num único dia, os doentes referenciados pelos médicos de família ou por outras especialidades do hospital são avaliados e a partir de então serão submetidos a alguns exames, como a ecografia ou a biópsia das glândulas salivares.

Após o diagnóstico, têm acesso aos tratamentos que não os vão curar, mas que irão melhorar a qualidade de vida. “São várias as consequências: com pouca saliva aumentam as doenças da boca; com a secura ocular pode-se ter inflamações na córnea; e com um cansaço extremo torna-se difícil manter a atividade profissional”, enfatiza o médico.

Outros sintomas comuns incluem as dores articulares, por vezes com inchaço (artrite), e a secura da pele ou vagina, formigueiros, falta de sensibilidade, fenómeno de Raynaud, perda de peso, entre outros.

“Por vezes, os doentes têm picos de febre, perda de peso, parotidite, suores noturnos… O doente não associa a este problema; nós, médicos, temos de perguntar.”

A síndrome de Sjögren é “um desafio” e, sendo rara, ainda tem muito para se descobrir. Para o efeito, o CHULN tem apostado na investigação ou não fosse um centro hospitalar universitário. Além dos doentes serem inscritos na base da Reuma.pt – o Registo Nacional de Doentes Reumáticos -, estão a ser desenvolvidos estudos e ensaios clínicos no CHULN e no Instituto de Medicina Molecular. “É importante esta ligação entre a clínica e a investigação, porque ainda não existe um tratamento específico; estão, todavia a decorrer ensaios clínicos e poderão surgir novidades.”

Até lá resta alertar para esta síndrome rara, que, apesar de pouco conhecida, causa “forte impacto” na vida dos doentes e sensibilizar os médicos de diferentes especialidades para a importância de um diagnóstico atempado.

Texto: Maria João Garcia