Mais conhecimento da população sobre a forma de ver a mulher, mais rastreios de saúde, melhor acesso digital à formação dos profissionais, maior promoção do apoio psicológico e maior audição de subgrupos, como migrantes e mulheres com deficiência. Estas são algumas das propostas da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS), que pede ao Governo a criação de uma estratégia nacional para melhorar o acesso das mulheres aos cuidados de saúde. A presidente da sociedade científica acredita que “este plano deve reconhecer a importância da literacia em saúde e apresentar medidas precisas sobre acesso, prevenção, promoção e capacitação das mulheres”.
A proposta vai ao encontro daquilo que já se faz noutros países: a adoção de uma orientação nacional que responda às necessidades da saúde feminina. Entre as propostas, a SPLS defende um foco na saúde holística da mulher integrada num determinado contexto, na saúde reprodutiva e planeamento familiar, na prevenção e rastreio de doenças, como as infeções sexualmente transmissíveis (IST), e no investimento em pesquisas científicas para melhorar a compreensão das questões de saúde específicas das mulheres.
Cristina Vaz de Almeida, presidente da SPLS, recorda que, em Portugal, “apenas 22% das mulheres afirmaram ter feito um exame para detetar qualquer tipo de IST, de acordo com o Índice Mundial da Saúde das Mulheres de 2022”. Além disso, relembrando um relatório do Instituto Europeu para a Igualdade de Género de 2021, diz que “a saúde das mulheres portuguesas é pior do que a dos homens: têm mais dificuldade em pagar despesas de saúde mental e dentárias e vivem menos tempo com qualidade de vida depois dos 65 anos”.
O plano deve também dar destaque à implementação de estratégias para a promoção da saúde mental, focando-se na prevenção, deteção e tratamento de condições como depressão, ansiedade e violência doméstica. Atualmente, os transtornos alimentares figuram na lista de doenças psiquiátricas com maior prevalência em indivíduos do sexo feminino.
A sociedade científica defende ainda que é fundamental olhar para as mulheres em situação de vulnerabilidade, como idosas, reclusas e vítimas de violência de género. “É necessário que consigamos responder a todos os pedidos de ajuda, principalmente dos grupos que, perante as suas vulnerabilidades, tendem a esconder-se mais ou recusam pedir ajuda por vergonha ou receio”. Cristina Vaz de Almeida afirma que o diploma deve também deixar claro a responsabilidade das instituições de saúde em dar uma resposta assertiva e inclusiva aos membros da comunidade LGBTQI+, como mulheres transgéneras.
Saúde materna e acesso das mulheres aos lugares de topo na saúde são outras das preocupações da associação. Para já, a SPLS recomenda a criação de um grupo de trabalho que possa estudar e analisar estas e outras propostas. “Uma estratégia nacional de saúde da mulher é importante para garantir que as mulheres recebam cuidados de saúde abrangentes, específicos e acessíveis, promovendo a sua saúde e bem-estar. É preciso olhar para a mulher de uma forma holística, na sua total liberdade e igualdade”, conclui.
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“É fundamental saber ouvir a mulher que nos procura e saber pesquisar os sintomas”