Ter filhos é uma tarefa muito recompensadora, mas também desafiante. Especialmente quando as crianças se encontram em idades mais difíceis e complicadas, começando a mudar comportamentos, maneiras de pensar, modos de agir, enfim, quando começam no fundo a desenvolver o seu corpo adulto e a sua personalidade.

Falo em concreto da adolescência, da qual muito se ouve falar e nem sempre vem acompanhado pelos melhores motivos. Mas não tem que ser assim nem devemos contribuir para que assim seja. E é sobre isso que iremos falar hoje.

O que é a adolescência?

É a fase de transição entre a infância e o jovem-adulto em que ocorrem várias transformações físicas, intelectuais, emocionais, comportamentais e sociais. Normalmente acontece entre os 10 e os 16 anos. É caracterizada normalmente como sendo um período conturbado e onde o papel dos pais e também restante família, professores e amigos é fundamental.

Principais mudanças na adolescência

As mudanças físicas são as mais características porque se ‘conseguem ver’, mas todas as mudanças têm a sua importância e propósito. No entanto, a puberdade é a alteração mais vincada nesta fase de crescimento. O corpo começa a desenvolver-se, os órgãos sexuais definem a sua forma mais adulta, nas meninas cresce o peito e surge a menstruação, nos meninos aparecem os primeiros pelos da barba, o odor é mais forte e também acontece a mudança da voz. Em ambos começam a crescer em maior abundância os pelos em diversas partes do corpo, como pernas e axilas, surge o acne no rosto e também os traços faciais começam a definir-se para o mais próximo da fase adulta.

Para além disso, acontecem ainda outras mudanças e, de todas, destaca-se a construção da personalidade. Esta é uma fase fundamental nesta transição, onde o jovem vai construir aquilo que é, ou seja, a sua identidade, baseando-se em vários aspectos, como valores, identidade e orientação sexual, vocação, autonomia, perspectivas, etc.

Nesta fase o grupo de pares, dos amigos e colegas da escola tem especial importância para os adolescentes. São o seu grupo de pertença e, como tal, há uma tendência para seguirem os mesmos ideais, gostos, maneira de vestir, corte de cabelo, entre outros. É também com os amigos e colegas que os jovens iniciam experiências, e é muitas vezes este o aspecto que deixa os pais mais preocupados. Isto porque, dependendo dos interesses, humor, vivências e circunstâncias de cada um, o adolescente poderá, muitas vezes até como resposta à revolta e confusão que sente, colocar-se em situações de risco. Falo especialmente em beber, fumar, relações sexuais desprotegidas, experiências com drogas leves até às mais pesadas, fuga de casa, entre outros.

A conturbada relação com os pais

Todos os aspectos referidos acima, e mais alguns, acabam por levar a uma relação conturbada com os pais. É complicado para estes verem o seu filho a crescer, a querer ser ele a fazer as coisas, a ter opinião, a já não concordar com tudo o que os pais dizem, a resistir frequentemente a ordens, a já não desabafar tanto com eles, a ter segredos, a já não aceitar a roupa que lhes escolhem, a ‘dar mais ouvidos’ ao grupo de amigos do que aos pais, etc.

Em suma, não é de facto uma fase fácil, mas devemos aprender a lidar com ela. E sobretudo os pais devem ter o papel crucial de irem falando com os seus filhos sobre estas mudanças, para os preparar para o que aí vem. É também fundamental que sejam compreensivos, pacientes e que se tornem em aliados dos adolescentes em vez de representarem mais um problema e um obstáculo. Claro que isto não significa que as regras devem deixar de existir, mas devem ser ajustadas. Não resolve, e ainda piora a situação, se tratarem o adolescente como uma criança. Ele está a crescer, assim como os pais cresceram, e deve ser dada maior abertura para que possa viver esta fase da forma mais normal possível.

E, claro, cada caso é um caso e há situações de crianças calmas que se tornaram adolescentes irreconhecíveis. Mas é importante não esquecer que se trata de uma fase de muita confusão, muitas mudanças, muitas questões em que o jovem precisa de apoio e também de quem o ajude a compreender o que está a acontecer.

Nestas fases, quando os pais já não sabem mais o que fazer, é importante que se procure ajuda especializada, nomeadamente apoio psicológico.

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