O desenvolvimento da minha força, coragem e paz interior demorou muito tempo e os meus resultados nem sempre foram imediatos e nem sempre os que mais desejei ao longo de todo este meu processo de aceitação com o meu lúpus. Teve que partir de mim o que quis mudar em cada ação que fui executando. Só assim foi possível tomar as decisões certas dentro do meu coração.
Muitas vezes senti medo, mas tive que mergulhar dentro do meu interior. O silêncio levou-me ao meu encontro e foi sem dúvida revitalizador. Encontrei a paz e muitas respostas sobre os meus processos de tratamentos que teria que realizar. De uma coisa eu tinha a certeza, o meu processo de renascer teria que começar agora e já, porque o bem mais precioso que tenho é a vida.
A vida para mim tem sido uma aprendizagem permanente, que me faz refletir todos os dias. Aprendi a não me esquecer de mim e a não perder a autoestima, pois esta deve ser um dos pilares que nos faz emergir para voltarmos a viver. Nunca desistir! Aprendi a encontrar a minha paz interior, para sentir a força que por vezes tanto necessito para ir continuando a fazer o meu caminho. Aprendi apenas a valorizar o momento que a vida me vai dando. Aprendi a não dar importância a coisas que não interessam, mas aprendi também a observar as pequenas coisas que a vida nos dá, por mais pequenas que sejam.
Vivo ao som das ondas, vou buscar no mar a força para ultrapassar todos os obstáculos. O mar traz-me luz e serenidade e é ele que me inspira e me embala. É aqui o sítio onde eu encontro a minha plenitude, o meu equilíbrio e me sinto livre. O areal é amplo, com muitos recantos resultantes das formações rochosas, onde as cores do mar se vão modificando. O céu vai-se transformando com as suas cores cintilantes e luminosas e cada rocha tem um pedaço da minha história.
O que estava para vir eu desconhecia, nem imaginava poder vir a passar, mas enfrentei com algum medo pelo desconhecido. No início de todo o meu processo não estava a conseguir compreender a fragilidade do meu corpo, mas hoje, passados quase 19 anos de uma doença que será para toda a minha vida, encaro como uma forma de aprendizagem, um ensinamento e, sobretudo, fez-me estar mais atenta a todos os sinais que o meu corpo me dá de alerta.
Ao longo destes anos aprendi muito sobre a minha doença, sou um membro bem ativo na mesma, mas tenho muita sorte em ter comigo médicos que me ajudaram a mim e a toda a minha família a poder ter este suporte de informação e adaptação ao meu lúpus.
Já passei por vários processos: já chorei, sorri, ajudei, vivi e já caí muitas vezes, mas também já me levantei e corro todos os dias para abraçar a vida. Considero-me, apesar de tudo, uma pessoa feliz , pois tenho feito dentro de mim toda uma construção de conhecimento individual, que me faz todos os dias abraçar e observar as coisas. Tornei-me hoje uma pessoa bem mais atenta a tudo o que me rodeia. Gosto de simplicidade, mas não gosto da falsa paciência.
Aprendi que não quero perder mais tempo e energia com nada que deseje fazer. Não perco tempo com discussões sem sentido, também não insisto em mudar algo que claramente está além do meu controlo. Valorizo muito o facto de poder investir o meu tempo em coisas que ainda possuem grande significado para mim. Aprendi com os meus erros e, sobretudo, a pensar muitas vezes que vou conseguir contrariar os sintomas do meu lúpus, mas também aprendi que essa minha teimosia não me leva a lado nenhum, só me prejudico e hoje quero muito respeitar os sinais que o meu corpo me dá, pois se o ouvir, ambos podemos chegar a bom porto.
Hoje o que mais quero é ter tempo para poder viver grandes momentos de felicidade com os meus, pois tenho uma sede enorme de viver e sentir que os pequenos momentos alegram a minha alma. Sou alguém bem mais consciente daquilo que sou e não é uma doença crónica que me define.
Quero para a minha vida que a brisa do mar continue a bater no meu rosto e agradecer a todos os que me têm acompanhado nesta longa jornada da minha vida com um amor incondicional, que só assim faz sentido, porque o amor cura.
Se um dia olharem para o céu e não me virem, sou a onda do mar que continuará a ser feliz, porque do vosso lado estarei sempre. As nossas metas e periocidades somos nós que as definimos, o caminho somos nós que temos de o construir. Todos os dias me foco nas minhas capacidades e não nas minhas incapacidades. Não percam tempo a ficar tristes, temos um mundo lá fora para viver.
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