“Minimizar o erro”, “novas abordagens”, avanços a nível de tratamentos, e o que tem sido feito no que diz respeito às doenças mais prevalentes dentro da área da Gastroenterologia. São estes alguns dos assuntos abordados em mais uma reunião promovida pelo NGHD, e Jorge Silva e Isabel Medeiros revelaram alguns dos aspetos que serão alvo de destaque em cada tópico.

Jorge Silva começa por explicar que a escolha pelo mote da reunião prende-se com a “atualidade do tema, porque quer seja um erro inadvertido, quer seja uma heterogenia, o erro está cada vez mais presente, sendo que um médico tem sempre de ter em mente a forma de o minimizar ou abolir”. “Diminuir o erro, traduzindo-se no aumento da segurança e da correção do ato médico, foi um tema que pensámos que seria importante para constituir a génese do programa científico desta reunião”, refere.

Já para Isabel Medeiros, “‘Minimizar o erro’ traduz-se em limitar o prejuízo em relação ao doente e ter sempre a consciência de fazer todos os atos de acordo com a legis artis”.

A especialista em Gastroenterologia afirma que o que mais preocupa os profissionais desta área “é a possibilidade de surgirem complicações endoscópicas de procedimentos”, uma vez que estes são “cada vez mais invasivos, equiparando-se a procedimentos cirúrgicos”. “Como tal, toda a equipa tem de se encontrar em condições adequadas de os desempenhar, quer em termos de treino, de descanso, de dotações em termos do número de elementos em relação aos procedimentos e à complexidade dos mesmos”.

No que concerne à questão das “novas abordagens”, a presidente do NGHD explica que esta expressão se relaciona “com o desenvolvimento da vertente tecnológica”, mas não só. “O médico ou enfermeiro que vai abordar determinada patologia deve perceber que a pode abordar com uma técnica em específico ou com outra”:

“Há sempre alternativas, e é necessário dominar essas alternativas e perceber a sua indicação e as suas possíveis complicações”.
Avanços de tratamento dentro da Gastrenterologia

No que diz respeito a “uma área que se tem desenvolvido” e que permitiu “a abertura de possibilidades na resolução de uma série de problemas que muitas vezes eram cirúrgicos e que agora até podem não ser”, a presidente do NGHD destaca a “ecoendoscopia”.

Isabel Medeiros salienta ainda que “têm sido criados, cada vez mais, próteses distintas, dispositivos mais invasivos com técnicas que permitem controlar uma hemorragia ou uma perfuração e, até mesmo, tratar uma perfuração sem ser necessário ir ao bloco”.

“Há uma série de aspetos que estão continuamente a avançar, não esquecendo as novas abordagens do ponto de vista terapêutico, sendo que temos cada vez mais fármacos e mais moléculas para resolver problemas que já são antigos”, afirma.

Além da ecoendoscopia, o presidente da Comissão Organizadora e Científica do evento destaca “ferramentas como a CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica), que já é uma técnica antiga mas que tem novos upgrades”. ” Estas são duas armas que a Gastroenterologia tem para tratar o mesmo tipo de patologia”.

Também a “mucosectomia e a dissecção da submucosa são duas técnicas relativamente recentes para tratar lesões precursoras de cancro do aparelho digestivo”. “Alcançar o terceiro espaço é uma técnica recente, mas que permite uma abordagem completamente distinta da patologia gastroenterológica”, menciona.

O especialista menciona ainda o impacto da inteligência artificial, “que está um pouco em todos os níveis, quer da sociedade, quer da medicina, e que também se tem aplicado na Gastroenterologia, onde desempenha uma enorme função, nomeadamente na deteção precoce de cancro”.

Hepatite em Portugal

Questionado relativamente ao facto de a patologia da hepatite ter um lugar central na reunião enquanto temática, Jorge Silva afirma que esta doença “continua a ser muito prevalente em Portugal”. “É um desafio constante, quer para os gastroenterologistas, como para os internistas, para os Hepatologistas em geral, e mesmo para os médicos de Medicina Geral e Familiar, que são quem muitas vezes faz os rastreios”, declara.

“É uma temática que permanece atual, sendo que tanto no caso da hepatite B como da hepatite C, estas patologias ainda não foram erradicadas e, portanto, continuam a ocupar um espaço importante na atividade de um gastroenterologista”.

Quanto aos desafios atuais que dizem respeito às hepatites, “no caso da hepatite C conseguiu-se já uma otimização do tratamento”, mas “no caso da hepatite B ainda não”. “Pensa-se que a fase em que se deve iniciar o tratamento é ainda uma questão em aberto”, explica o clínico.

Pancreatite crónica

Durante a reunião do NGHD, Isabel Medeiros fará uma intervenção no âmbito do tema da pancreatite crónica. A especialista conta ao SaúdeOnline que esta patologia “é mais frequente do que se pensa”.

“Muitos vezes, o diagnóstico passa despercebido e nem sempre a terapêutica é 100% eficaz ou conseguimos uma melhoria total. Nesse sentido, por vezes são necessárias intervenções mais proativas, nomeadamente perceber quando é que o doente vai precisar de uma CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica), que é uma técnica mais invasiva que nos vai permitir realizar uma drenagem do pâncreas. São situações complexas de bordagens multifatoriais”, explica.

Doença intestinal inflamatória

Dentro desta temática, Jorge Silva afirma que os principais ajustes de terapêutica que se têm revelado bem sucedidos são os “tratamentos com medicamentos biológicos”. “Acontece que como o tema central do nosso congresso é ‘Minimizar o erro’, um dos temas é precisamente como individualizar a terapêutica biológica de forma a minimizar os erros. Associado a esse fator, achamos que também é de extrema importância mencionar a nutrição, que é uma das armas terapêuticas que temos”.

O presidente da Comissão Organizadora e Científica da reunião acrescenta ainda que “outro assunto relevante no caso da doença inflamatória intestinal é a deteção precoce de cancro, como é que deve ser feita essa vigilância e quais são as armas ao dispor”.

Resultados do inquérito nacional do NGHD

“O inquérito tem a ver com a referenciação inter-hospitalar dos serviços, ou seja, como é que um serviço de Gastroenterologia se deve relacionar com os outros serviços dos outros hospitais. Adicionalmente, pretendemos perceber como é que um serviço de Gastroenterologia deve tratar um determinado doente quando o seu hospital não tem uma determinada valência. Refiro-me à forma de como é que a rede deve funcionar para a referenciação dos doentes”, explica Jorge Silva.

Na generalidade da reunião, Jorge Silva conclui salientando que “a XXXVII Reunião Anual do Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais é um evento de âmbito nacional, que conta com dois simpósios, um sobre a doença inflamatória intestinal e outro sobre a hepatite C, e tem ainda várias mesas-redondas com casos clínicos, com casos endoscópicos e comunicações orais feitas por internos”.

“Para além disso, conta com duas conferências muito importantes, uma delas feita por Enrique Domínguez Muñoz, denominada ‘Pancreatite Crónica: Minimizar o erro no diagnóstico e tratamento da insuficiência pancreática exócrina (IPE)’, e temos uma outra conferência feita por Mário Dinis Ribeiro, que se intitula ‘A Endoscopia em 2040′”.

O evento encontra-se a ocorrer durante o dia de hoje e de amanhã no Penafiel Park Hotel.

CG

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