O espaço público, especialmente nas áreas urbanas, é fundamental para o bem-estar das comunidades. Contudo, há uma grande diferença entre usá-lo para jardins, parques infantis e ciclovias, ou destiná-lo a estacionamentos e avenidas. Eventos como a Semana Europeia da Mobilidade, que decorreu há um par de semanas, recordam-nos do papel positivo dos sistemas de mobilidade urbana para este efeito. Passo a justificar: veículos como trotinetes e bicicletas, além de serem uma excelente forma de deslocação dentro das cidades, também facilitam o acesso de pessoas que vivem em zonas suburbanas aos transportes públicos, tornando-as menos dependentes do automóvel particular. E, quanto menos carros tivermos no centro das cidades, menos espaço será dedicado ao estacionamento dos mesmos.

Na verdade, o aumento do custo de vida está a alargar as fronteiras das metrópoles. Há, aliás, estudos que confirmam que cada vez mais pessoas estão a deslocar-se do centro para zonas mais periféricas por este mesmo motivo. Ora, a mobilidade partilhada é importante para esta evolução e deve acompanhá-la no sentido de facilitar as deslocações até estações de metro, autocarros e comboios. Isto porque as áreas em crescimento tendem – pelo menos de um ponto de vista geral no nosso país – a ser mal servidas por transportes públicos, o que por sua vez leva a uma maior dependência dos carros.

De facto, segundo a Comissão Europeia, 72% dos condutores apontaram a falta de ligações imediatas aos transportes públicos como a principal razão para escolherem conduzir em vez de usar os transportes públicos. As trotinetes e bicicletas podem ser a solução para o primeiro ou último quilómetro de uma viagem mais longa, ligando o ponto de partida ou o destino final das pessoas a outro meio de transporte. Outra alternativa é o serviço de ride-hailing, vulgo TVDE, que também pode desempenhar um papel crucial na redução da dependência do automóvel particular.

Em suma, o papel da mobilidade partilhada nunca foi tão relevante, caminhando lado a lado com a evolução das cidades. A micromobilidade desempenha um papel crucial ao transformar o espaço público em áreas úteis dedicadas ao usufruto das pessoas, em vez de serem dominadas por automóveis. Para que esta visão se concretize, é fundamental que os vários decisores e intervenientes no setor da mobilidade explorem novas oportunidades, de locais a nacionais, para assegurar a ligação com os transportes públicos, garantir a acessibilidade da mobilidade partilhada a todos os cidadãos e facilitar a sua utilização.

Responsável de Micromobilidade da Bolt em Portugal e Espanha