A jovem acusada de ter matado a irmã de 19 anos em Peniche confessou, esta terça-feira, em tribunal, que proferiu 30 golpes com uma faca após ter sido ameaçada pela vítima.

O crime terá ocorrido por causa de um telemóvel. Na primeira sessão do julgamento, a jovem confessou que a irmã, que sofria de nanismo, lhe retirava várias vezes o telemóvel, porque "não queria que falasse com rapazes na internet ou presencialmente".

O dia fatídico

A 15 de agosto de 2023, as duas encontravam-se sozinhas em casa, quando a arguida pegou no telefone fixo para encontrar o seu telemóvel, que a irmã havia escondido.

"Quando a minha irmã viu que estava a telefonar para o meu telemóvel ficou chateada. Pediu-me para o devolver, o que não o fiz. Foi ao quarto do pai buscar um pé-de-cabra para me ameaçar", contou a jovem, num testemunho emocionado.

A acusada revelou que a irmã a ameaçou: "ou soltas o telemóvel ou dou cabo de ti". A menor foi à cozinha buscar uma faca e ambas avançaram uma para a outra.

"Foi tudo muito rápido. Dei-lhe 30 facadas"

Segundo contou ao coletivo de juízes, a vítima levantou o pé-de-cabra para lhe bater e foi quando a menor lhe desferiu o primeiro golpe no abdómen. "Foi tudo muito rápido. Dei-lhe 30 facadas", revelou.

Sem conseguir explicar a razão por que continuou a desferir facadas, apesar de a irmã já se encontrar no chão e a sangrar, a arguida referiu que percebeu que a irmã já não respirava. "Chamei por ela e não respondia e o coração não batia. Não queria acreditar que a tinha matado. Pensei em chamar ajuda, mas tive medo".

A menor acabou por esconder o corpo da irmã debaixo da cama durante três dias, relatando que depois a levou num carrinho de mão para um quintal, onde a enterrou. Questionada pelo pai sobre a ausência da irmã, disse-lhe que estaria em Lisboa com o namorado.

A arguida confessou ainda que estava sempre sob supervisão da irmã, que dizia "às pessoas para se afastarem" dela, "porque não era boa pessoa".

"Agredíamo-nos muito verbalmente. Punha-me de castigo em casa. Não me deixava sair e, por vezes, ela fazia as refeições só para ela e para o meu pai, e punha a minha mãe contra mim", adiantou aos juízes.

Questionada se nunca pensou em confessar, a jovem admitiu que chegou a pensar em falar com os pais, mas a "mãe nunca mais a tinha ido visitar e o pai, que já bebia, ainda estava pior".

Corpo só foi encontrado um mês depois

O desaparecimento foi comunicado à PSP pela mãe no dia 19 de agosto. A Polícia Judiciária começou a investigar o caso, vindo a encontrar o corpo da vítima em 15 de setembro, um mês depois.

A jovem agressora está a aguardar julgamento em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Tires, no concelho de Cascais, no distrito de Lisboa. Está acusada dos crimes de homicídio qualificado e profanação de cadáver.

A família estava sinalizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Peniche, mas não por maus-tratos.

Com LUSA