São poucos os estados membros que aplicam 3% do orçamento em Investigação e Desenvolvimento (I&D), e há uma falta de investimento quase crónica na UE. O diagnóstico veio pela voz de Iliana Ivanova, comissária Europeia com a pasta da Inovação, depois de substituir, durante um ano, Maryia Gabriel que se demitiu do cargo.
Numa reunião com jornalistas durante a Web Summit, Ivanova diz-se “uma pessoa de números” e foi com esses números que alertou para a necessidade de acelerar o passo na inovação. “Se olharmos para o que temos aqui, na Europa, nos últimos 20 ou mais anos, vemos um défice anual de financiamento de cerca de 100 mil milhões de euros no investimento em inovação, para chegar ao desejado objetivo dos 3%”.
Hoje, a média do investimento em I&D da UE não passa de 2,24% dos orçamentos dos estados membros. A Comissária Europeia da Inovação recorda que os principais parceiros e rivais da UE já vão além de investimento que superam os 3% dos orçamentos – e que a presidente Ursula von der Leyen já apontou a área da inovação como um das prioridades do novo mandato da Comissão que agora se avizinha – mas a solução não pode depender apenas do erário público.
“O programa Horizonte Europa que temos em curso é um dos maiores programas de financiamento público (de inovação). Tem um orçamento de 93 mil milhões, depois de efetuados os cortes, mas não é suficiente. Como disse, temos uma lacuna de 100 mil milhões por ano, enquanto temos 93 mil milhões para um período de sete anos. Portanto, basta fazer as contas (para perceber a escassez de investimento)”, acrescentou ainda a Comissária, durante questões colocadas por jornalistas.
Ivanova considera que os sucessores não podem confiar apenas no potencial e nos efeitos alcançados pelo programa Horizonte Europa para inverter a falta de investimento e aponta os financiamentos regionais e dos estados membros como fontes de capital que terão de ser exploradas. Mas há mais alternativas – em especial dos privados. “Temos de ter um mercado de capital a funcionar para estes investidores de capital de risco terem as condições certas e os incentivos para investir na Europa”, sugere a comissária Europeia.
Ivanova recorda que há investidores que se queixam mais das condições regulamentares, e da fragmentação fiscal que da falta de capital, propriamente dita. Por mais de uma vez, a comissária alertou para necessidade de acelerar o passo para o longo caminho que há pela frente e para a importância de fazer o “trabalho de casa” que vai permitir criar as condições necessárias para escalar os negócios mais inovadores.
“A Europa está assumir parte do risco maior e inicial, especialmente para as startups de tecnologias mais complexas e que não financiadas pelos bancos, ou que têm dificuldade em ter empréstimos de bancos. É aí que queremos entrar em cena”, refere Iliana Ivanova.
Sem os mesmos atributos ou capacidade de investimento de outras regiões do Globo, os resultados podem ser dececionantes quando se verifica que as “grandes ideias que são criadas na UE” e não conseguem financiamento para escalar e acabam por mudar de mercado, com o chamamento dos investidores externos - em especial dos americanos. “Essas empresas são compradas e desaparecem da Europa”, lamenta Iliana Ivanova.
Foi para tentar remar contra as marés que levam as melhores ideias e pessoas para os EUA ou para a China, que a Comissão Europeia patrocinou, sob a coordenação de Iliana Ivanova, a criação de uma nova Rede de Investidores para partilharem financiamentos em novos projetos.
“O Conselho Europeu de Inovação tem 10 mil milhões de euros. É uma gota de água no oceano, mas cada euro que aplica atrai quatro euros adicionais de fundos privados. E nós queremos multiplicar isso, queremos criar mais oportunidades para que mais investidores se juntem ao contributo que a Europa tem feito”, conclui a Iliana Ivanova.