Após a minha graduação como médico dentista, em 2005, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, em Lisboa, iniciei o meu percurso profissional, iniciando funções como médico dentista no sistema nacional de saúde inglês, o que mais de uma década depois dotou-me não só das competências clínicas e sociais necessárias para entender como tratar os utentes de forma eficaz e com a compaixão e a empatia necessárias, mas também do modo como funciona este SNS.
Nos fins de 2019, já regressado a Portugal, iniciei funções como Médico Dentista para o nosso Sistema Nacional de Saúde, no Gabinete de Medicina Dentária de Reguengos de Monsaraz. Foi com grande orgulho, prazer e privilégio que continuei estas funções, mais tarde, nos Centros de Saúde de Portel e Estremoz, sendo neste último onde atualmente exerço as minhas funções.
Após esta breve apresentação curricular, importante para o contexto deste artigo passo então a exprimir, de modo informal e arbitrário, as minhas opiniões e experiências neste tópico.
Ainda me lembro, da enorme satisfação e do sentimento de realização profissional que senti ao tratar e assegurar a saúde oral a utentes já nos seus 60-70 anos que nunca tinham ido, durante uma vida inteira, por razões económicas, ao dentista, utentes estes, que no fim do dia, verdadeiramente apreciaram o serviço por nós prestado.
O problema, um entre muitos, surge na falta de retenção dos profissionais envolvidos na prestação destes serviços, devido, não só, mas também, à inexistência da carreia especial de médico dentista no SNS. Algo, que sem querer estar a entrar demasiado na esfera política, poderá de facto vir a ocorrer, pelo menos de acordo com as palavras recentes de Pedro Nuno Santos.
Sou da opinião também, de que deveria haver uma maior colaboração entre os departamentos de Medicina Dentária, Higienistas Orais e Nutricionistas dentro do SNS. Afinal de contas, a nossa saúde geral começa na nossa saúde oral, facto este que é para mim óbvio há bastante tempo e que cada vez mais é cientificamente reconhecido e comprovado. Entre inúmeros exemplos, cito a relação entre a periodontite e as doenças cardiovasculares, mas não só.
Acredito que, eventualmente, a esfera de tratamentos efetuados pelos dentistas no SNS, poderá, ou pelo menos deveria ser, para benefício dos utentes, ampliada para acrescentar tratamentos dentários na área da prótese removível e fixa, fundamental para a qualidade de vida e saúde dos utentes.
Como já referi, este é um tema complexo e com tremenda importância, que não é atualmente reconhecida. Estas mudanças, ideias e reflexões, exigem um esforço que tem de ser feito obrigatoriamente por muitos e que demorará algum tempo a ser concretizado. Uma visão, e acredito piamente no que escrevo, que juntamente com tantas outras poderá tornar o nosso estimado SNS num exemplo líder a nível europeu.
Uma certeza resiliente tenho dentro de mim, a de que temos excelentes profissionais, as infraestruturas e os meios para melhorar a eficiência, aumentar a qualidade e quantidade dos serviços prestados pelos médicos dentistas nas unidades locais de saúde. Falta a coragem, determinação e vontade para implementar estas mudanças que tanto beneficiariam os utentes e os profissionais. Um sistema robusto de monitorização, para melhor avaliar o desempenho, identificar pontos fracos e pontos fortes, para podermos assim moldar o futuro da medicina dentária no SNS, um plano consensual independente de cores políticas, concreto, objetivo e assertivo, com uma maior articulação entre todos os atores envolvidos.
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