Esta é a terceira vez que um grupo de fisioterapeutas se junta para organizar o Congresso do Cancro da Mama do Algarve (CCMA). Como é que surgiu esta ideia?
Tânia Camilo (TC) – A ideia surgiu em contexto clínico. Durante as sessões de fisioterapia os utentes tinham conhecimento da sua doença de uma forma lata e pouco correta, mostrando-se amedrontados e confusos. O ensino aos utentes, permitia uma melhoria da qualidade de vida e devolvia sorrisos.

Por sabermos que, na 1.ª consulta médica, a assimilação de informação é menor que 50% e como o Algarve era negligenciado relativamente a eventos que promovessem a literacia em saúde, surgiu a ideia de criar um evento que juntasse doentes oncológicos, profissionais de saúde e população em geral. De realçar, que hoje em dia, já existem muitos eventos na área do cancro de mama no Algarve, mas há 3 anos não era essa a realidade.

A que necessidades este evento vem responder?
Jacqueline Tavares (JT) – Melhorar a literacia em saúde entre profissionais de saúde e população em geral, principalmente doentes oncológicos e seus familiares/cuidadores. A nossa missão continua a focar-se na educação e promoção da literacia em saúde para que a jornada oncológica seja cada vez mais informada, descomplicada e sem tabus.

De salientar também que a partilha de informação acerca da atualização de conhecimentos nas diversas áreas da saúde, permite aos profissionais uma referenciação mais facilitada, de forma a atingir um cuidado de excelência.

Como é organizar um congresso que é dedicado tanto a profissionais de saúde, como a doentes, familiares e cuidadores?TC – É, principalmente, muito enriquecedor. Não só pela diversidade de pessoas que conseguimos atingir, mas também por conseguirmos criar o ambiente certo, para que todos os participantes consigam esclarecer as suas dúvidas, sem constrangimentos, o que muitas vezes não acontece em contexto de consulta.

É, sem dúvida, um desafio, mas muito gratificante. É um desafio também que as pessoas valorizem eventos deste género e que se desloquem de suas casas até ao evento. É quebrar tabus e desmitificar que os profissionais do centro não se deslocam ao sul, para reuniões deste género.

Quais as mais-valias de juntar profissionais de saúde e doentes num mesmo evento?
JT – A grande mais-valia é a possibilidade de esclarecer dúvidas com uma linguagem simples, num ambiente descontraído e informal, assim como atualizar e adquirir novos conhecimentos, com base científica, para que a autoconfiança e autoestima de cada participante aumente.

No Congresso do Cancro da Mama do Algarve aprende-se a tratar o cancro da mama por “tu”.

Qual a importância da Medicina Integrativa na saúde da mulher em geral e no cancro da mama em particular?
TC – A Medicina Integrativa alia a medicina convencional e a medicina complementar, permitindo obter uma melhor condição de saúde por parte do utente, facilitando a colaboração interdisciplinar e multidisciplinar.

Além disso, realça a importância da relação entre o profissional de saúde e o utente, fazendo com que este tenha um papel mais ativo em todo o processo de reabilitação.

No doente oncológico, em específico, a Medicina Integrativa poderá ser integrada desde o diagnóstico até à sobrevida, de forma a diminuir os efeitos colaterais dos tratamentos e melhorar a qualidade de vida do utente.

“A Medicina Integrativa alia a medicina convencional e a medicina complementar, permitindo obter uma melhor condição de saúde…”

Quais são as especialidades/áreas que estão envolvidas “nesta” Medicina Integrativa?
JT – No CCMA, as áreas que estão envolvidas na Medicina Integrativa são: Fisioterapia, Nutrição e Suplementação, Fisiologia do Exercício, Medicina Tradicional Chinesa, Psicologia e Sexologia, Medicina do Sono, Aromaterapia, Meditação e Mindfullness. Ou seja, a Medicina Integrativa oferece ao utente uma maior variedade de opções terapêuticas.

Quer destacar alguns temas abordados neste congresso?
TC – Para nós, todos os temas da 3.ª edição do CCMA são interessantes. No entanto, podemos destacar alguns como: “Os princípios da Medicina Integrativa”; “A visão do fisioterapeuta – o paciente como um todo”; “Suplementação: porquê e para quê?”; “O poder do sono”; “Aromaterapia em Oncologia”; “Amor próprio: a chave para a intimidade e sexualidade”.

Além de termos palestrantes de diversas áreas específicas de intervenção a abordar estes temas tão interessantes, temos também a honra de receber figuras públicas mediáticas, como a Carla Andrino e a Susana Dias Ramos, que tocam o público de uma forma mais próxima e intensa, através das suas experiências pessoais e profissionais, tornando-se uma verdadeira inspiração.

Este é um evento solidário. Em média quantas pessoas esperam?
JT – Neste evento, esperamos receber em média 150 pessoas, sendo que, parte do valor das inscrições reverte para a Associação Oncológica do Algarve.

SM

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