Como surgiu este Grupo de Estudos de Pequena Cirurgia?
As pequenas lesões da pele, sejam quistos sebáceos, fibromas, entre outros, podem ser tratados nos cuidados de saúde primários (CSP) se se apostar na Pequena Cirurgia. Sem esse serviço de proximidade temos de referenciar para Cirurgia Geral, o que coloca o doente numa lista de espera de, no mínimo, 6 meses, quando não é mais. Sentimos que existia uma lacuna que pode ser facilmente preenchida por nós, enquanto profissionais de MGF. Antes de entrar no internato de MGF estive em Cirurgia Geral no Hospital Padre Américo de Penafiel e tenho competência em Pequena Cirurgia e achei que se poderia fazer algo nesta área, que, nos CSP, apenas exige material básico.
O também coordenador e fundador do Grupo de Estudos de Pequena Cirurgia, Manuel Henriques (USF Garcia de Orta), já praticava a Pequena Cirurgia, após ter feito formação no Reino Unido, no Royal College of General Practitioners (RCGP) e contactei-o para uma reunião. Criámos um protocolo e iniciámos esta consulta de Pequena Cirurgia também na USF Bom Porto, onde exerço, e a partir daí avançou-se com o Grupo de Estudos. Atualmente, no Grupo sou eu, o Manuel Henriques, a Catarina Novais, da USF Bom Porto, a Sara Almeida, da USF D. João V, e a Gabriela Machado, da Via Verde Saúde de Almada. Temos cada vez mais pessoas interessadas e esperamos ganhar mais força com o intuito de se conseguir ter impacto na divulgação desta área dentro da MGF. Além disso, pretendemos criar um serviço de proximidade com os nossos utentes, porque a MGF olha para o doente de forma holística.
Quais são as mais-valias da Pequena Cirurgia?
Os utentes acabam por ter um serviço rápido, de proximidade, deixam de ter uma enorme lista de espera para Pequena Cirurgia (neste momento, na USF Bom Porto, temos uma lista de espera de 30 a 35 dias, o que é bastante positivo), e temos sempre, por semana, cerca de 4 a 5 intervenções. Os números são bastante bons, os resultados são super satisfatórios, os doentes têm respondido aos questionários com 100% de satisfação. É uma mais-valia para o SNS, para os utentes e para as USF, que acabam por criar um serviço de proximidade com os utentes.
“Queremos criar um manual de procedimentos e fornecer linhas orientadoras para que os colegas que queiram também eles criar uma unidade de Pequena Cirurgia o consigam fazer de modo mais simples”
Como referiu, ainda não se dá a devida importância à Pequena Cirurgia. Neste momento qual é a realidade portuguesa?
Continua tudo muito limitado. Na época da pandemia, quando iniciei o internato de MGF, apenas a USF Garcia de Orta exercia Pequena Cirurgia, e neste momento existem quatro unidades a realizar esta competência. O objetivo deste Grupo é também, de certa forma, uniformizar os protocolos. Queremos criar um manual de procedimentos e fornecer linhas orientadoras para que os colegas que queiram também eles criar uma unidade de Pequena Cirurgia o consigam fazer de modo mais simples. Outro é a formação, que continua a passar por estágios no estrangeiro, por exemplo no Reino Unido, ou então através de estágios formativos durante o internato no hospital, na consulta de Pequena Cirurgia, que pertence à Cirurgia Geral. Devido ao aumento de interesse por parte de vários colegas estamos também a tentar estar presentes no próximo Encontro Nacional da APMGF com um workshop de suturas básicas.
Referiu que são necessários materiais simples. Sendo que estão previstas as ULS, acha que ainda assim vai ser possível lutar pela Pequena Cirurgia nos CSP?
Penso que sim, que seja possível manter a Pequena Cirurgia nos centros de saúde. Em termos de material, neste momento, quem o fornece é o ACeS, porque é básico. Todos os centros de saúde têm fios de sutura, pelo menos de seda, todos têm lidocaína, todos costumam ter porta-agulhas, lâminas, bisturi, pinças e tesoura, são coisas básicas. Grande parte dos centros de saúde tem até o kit de suturas descartável. Presumo que, agora, passando a ULS, o material a ser fornecido pelo hospital continuará a ser este material básico, também utilizado por enfermeiros. Até se poderá vir a ter uma maior escolha. Talvez esteja com uma expectativa boa demais para a realidade que se aproxima, mas sim, acho que vamos continuar a existir e a lutar por nos expandirmos.
Que mensagem gostaria de deixar aos colegas de MGF?
Quero deixar claro que não estamos a impingir a Pequena Cirurgia como uma competência básica para todos os médicos de MGF, mas sim para aqueles que sentem que, efetivamente, existe espaço para esta consulta nas suas unidades. Para estes, deixo o convite para se juntarem ao nosso Grupo. Conseguimos ajudar em termos de linhas orientadoras, de uniformização de protocolos, de formação – inclusive estamos a tentar estabelecer parcerias com as principais sociedades de MGF no estrangeiro, seja a semFYC, no caso de Espanha, seja a RCGP, no Reino Unido. Estamos a tentar criar essas pontes precisamente para tentar facilitar os intercâmbios, para que possamos proporcionar formação aos interessados. Quem pretender juntar-se a nós basta enviar a candidatura para o e-mail do Grupo:gepecx@apmgf.pt .
CG/MJG
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