A patologia hemorroidária é conhecida pela humanidade enquanto doença há muito tempo, apresentando referências históricas em documentos tão antigos como papiros egípcios (sendo o mais antigo datado de 1700 a.C.) e a Bíblia (antigo testamento, I Samuel cap. 5 e 6).

Apesar de ser frequente e com sintomas que incapacitam a qualidade de vida, permanece subdiagnosticada, contribuindo maioritariamente para este facto a vergonha que os doentes sentem em partilhar esta queixa com o médico (por se tratar de uma região sensível e privada), impedindo-os de procurar ajuda. É, portanto, imperativo sensibilizar a população em relação à doença e partilhar as inovações terapêuticas que a ciência tem realizado, explicando, para conhecimento geral, que não é necessário viver com o sofrimento que a mesma implica. O plexo hemorroidário é uma importante estrutura anorretal.

Ao contrário do que se acreditava até há pouco tempo, as “hemorroidas” não se tratam de veias insuficientes ou varicosas mas de sinusóides com junções arteriovenosas envolvidas por tecido conjuntivo e um fino músculo (músculo de Trietz).

Quando existe sintomatologia como hemorragia (normalmente sangue vermelho vivo), dor, saída de pedículos hemorroidários, muco ou prurido, o doente deve ser observado em consulta de proctologia e realizar uma anuscopia – exame de eleição para confirmação do diagnóstico e avaliação da extensão da doença (hemorroidas internas e seu grau, hemorroidas externas ou mistas), fazendo ainda o diagnóstico diferencial com outras patologias anorretais.

No que diz respeito ao tratamento, existe a terapêutica médica farmacológica (que não será curativa mas tem intenção de atrasar a progressão da doença ou tratar a agudização da mesma – como os flavonoides e as pomadas); a terapêutica instrumental não cirúrgica (como a laqueação com elásticos, a escleroterapia, a fotocoagulação com infravermelhos e a crioterapia) e a terapêutica cirúrgica onde, nos últimos anos, se têm verificado inovações relevantes com o desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas.

A terapêutica cirúrgica convencional (seja com a técnica aberta de Milligan-Morgan ou a fechada de Fergunson) estava associada a dor significativa e a importantes complicações no pós-operatório, estando reservada para doentes resistentes às terapêuticas anteriormente descritas ou que não são elegíveis para as mesmas.

O desenvolvimento de outras técnicas, como a hemorroidopexia mecânica ou a laqueação arterial guiada por eco doppler, melhoraram o pós-operatório dos doentes, mas, na minha opinião, as técnicas minimamente invasivas (como o Laser) mudaram o paradigma do tratamento cirúrgico desta patologia. Com o uso destas técnicas, foi alargada a indicação cirúrgica, contemplando o tratamento de doença hemorroidária menos avançada e mais precoce (com melhorias em relação à dor, à duração da recuperação pós-operatória e à menor taxa de complicações associadas), mostrando-se eficaz a longo prazo, sendo, portanto, superiores à terapêutica cirúrgica convencional e à terapêutica instrumental não cirúrgica.

Notícia relacionada

Fissura anal