A pesquisa do vírus HPV de alto risco (HPV-AR) constitui em muitos países o principal teste de rastreio do cancro do colo do útero e, dado o aumento substancial de resultados positivos, mais do que nunca é crucial compreender o curso da infeção pelo HPV ao longo da vida. Perante um resultado positivo, levantam-se muitas questões, a maioria das quais são colocadas ao médico na consulta e às quais temos de dar uma resposta válida e minimamente sustentada pela evidência. São questões complexas e as respostas difíceis, devido a incertezas não completamente esclarecidas.

Alguns vírus que estabelecem infeções crónicas são frequentemente controlados pelo sistema imunitário do hospedeiro, que pode regular a extensão da infeção produtiva, mas que não consegue eliminar o reservatório celular de infeção. Assim, em vez da eliminação viral após a infeção, pode desenvolver-se um estado de latência viral, durante o qual não são aparentes sinais clínicos de doença e não são produzidas ou libertadas novas partículas virais. É possível que tal infeção latente possa sofrer reativação futura, levando à síntese de novas partículas virais, com ou sem o ressurgimento da doença clínica. De facto, esta é a estratégia utilizada pelo HPV, cujo reservatório celular de infeção está contido entre as células basais que compõem a camada basal epitelial.

A literatura recente é bastante consistente com um modelo de latência do HPV, englobando desde estudos clínicos e populacionais a estudos moleculares em animais e mesmo evidência biológica em tecidos humanos.

Tem-se constatado que o avançar da idade está associado a menor risco de primeiras deteções de HPV por nova exposição sexual, mas não com as redeteções. A maioria dos autores sugere que muitas destas redeteções de HPV são reativações de infeções latentes. Além disso, dados convincentes de vários estudos em populações imunocomprometidas apoiam o fenómeno de doenças imunologicamente controladas, com redeteção ou reativação de uma infeção previamente adquirida. Tendo em conta a evidência recente, é atualmente proposto um modelo ou uma visão alargada da história natural da infeção pelo HPV.

As implicações de uma infeção por HPV reativada não são claras, já que muitos dos estudos clínicos e epidemiológicos não avaliaram de forma sistemática a latência do HPV. Existe um risco de lesão que é difícil de definir, com consequente impacto no rastreio, bem como na recomendação da vacina entre mulheres previamente expostas, mas atualmente sem HPV detetável.

Outra das questões importantes relacionadas com a incerteza quanto a novas aquisições e reativações virais é o impacto psicossocial provocado por um teste positivo. É necessário um consenso mais robusto na comunidade clínica e epidemiológica sobre a latência do HPV, para garantir que as mulheres com teste positivo para o vírus e os seus prestadores de cuidados de saúde tenham informações precisas para orientar a sua tomada de decisões e esforços de aconselhamento.

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