Como surgiu a ideia de realizarem estas Tertúlias?
Desde 2022 que somos um serviço com idoneidade para especialidade de Medicina Desportiva. Nesse âmbito, face ao nosso compromisso com a formação, surgiu a ideia de realizarmos estas Tertúlias. São dez reuniões online, gratuitas, e com a duração de cerca de 1 hora. Iremos abordar vários temas da Medicina Desportiva, com palestrantes de renome e de competência inquestionável na matéria. As reuniões são abertas a qualquer pessoa que sinta interesse na área da Medicina Desportiva e pelos temas em particular. Já tivemos uma sessão no dia 14 de setembro, com cerca de 300 participantes, e contamos até aumentar este número nas próximas sessões.
Qual foi o primeiro tema?
Dinâmicas e rotinas de um médico numa equipa de futebol. Contámos com a participação do Dr. Lluís Till, que falou sobre a sua experiência, a sua história de vida, aquilo que era a Medicina Desportiva há 20 ou 30 anos, o que é no presente e o que deverá ser no futuro. A segunda vai ser já no dia 12 de outubro, com um tópico relacionado com o exame pré-participação do atleta em competição e o foco vai ser a área da Cardiologia. Contaremos com o Prof. Doutor Hélder Dores, que nos vai falar sobre as particularidades da avaliação cardíaca do atleta e o que se deve valorizar. Os temas estão disponíveis na página do Sporting.
O coração do atleta tem determinadas particularidades?
Sim, a prática do desporto obedece a determinados fatores que têm de ser conhecidos pelos médicos de Medicina Desportiva, porque são esses critétrios que ditam aptidão ou inaptidão de um atleta quando encontramos determinados achados na avaliação cardíaca. A Tertúlia vai também ser moderada pelo Dr. Vasco Alves Dias, um cardiologista que se dedica também muito à área da Cardiologia desportiva.
“Apesar de tudo, e tendo em conta a dinâmica atual de vários serviços e instituições, penso que em 10 a 20 anos, iremos ter mais médicos especialistas em Medicina Desportiva”
Relativamente à Medicina Desportiva em si, é uma especialidade que está a crescer?
Há cada vez mais médicos interessados. O grande problema tem a ver com a formação e com capacidade em se obter o título de especialista em Medicina Desportiva. Infelizmente, durante anos não havia grande capacidade para se oferecer um ensino com qualidade, existindo poucas vagas para médicos que quisessem seguir esta especialidade. Felizmente, nos últimos anos, temos assistido a uma tentativa de vários serviços no sentido de se diferenciarem na área, tendo alguns já idoneidade formativa.
Ainda há um longo caminho a percorrer. Esta questão preocupa-nos, porque , a curto prazo, não vai ser possível possibilitar essa formação a todos os interessados. Mas, do ponto de vista, da qualidade, estamos bem e a dar os passos certos. Apesar de tudo, e tendo em conta a dinâmica atual de vários serviços e instituições, penso que em 10 a 20 anos, iremos ter mais médicos especialistas em Medicina Desportiva.
“A Medicina Desportiva não é só para um atleta de alta competição, será para a todas as pessoas que desejam praticar exercício físico e, acima de tudo, que pretendam fazê-lo com segurança”
A vossa área dedica-se muito aos atletas de alta competição. E o cidadão comum?
A Medicina Desportiva não é só para um atleta de alta competição, será para a todas as pessoas que desejam praticar exercício físico e, acima de tudo, que pretendam fazê-lo com segurança. É muito importante realizar-se periodicamente um exame médico-desportivo cuidado, por quem tem de facto essa competência – um médico especialista em Medicina Desportiva ou com pós-graduação. O nosso foco está na prevenção da lesão e na melhoria da performance. O médico de Medicina Desportiva é como o médico de Medicina Geral e Familiar do atleta, isto é, terá que ter conhecimento das várias áreas da Medicina. Muitas vezes, confunde-se a Medicina Desportiva com a Ortotraumatologia, mas a Medicina Desportiva é muito mais do que o tratamento da entorse ou da tendinopatia.
O futuro passará também por poderem dar apoio no Serviço Nacional de Saúde?
Sim, aliás esse passo já está a ser dado. Mas para tal é preciso que haja mais médicos especialistas, logo também mais serviços com idoneidade formativa. De acordo com o Colégio da Especialidade de Medicina Desportiva da Ordem dos Médicos somos 141 médicos. Somos poucos para conseguirmos dar apoio aos atletas de alta competição e à população em geral. Apesar de tudo, tal como já referi, dentro de 10 a 20 anos esta capacidade irá aumentar e poderemos, inclusive, apostar mais na formação de colegas de outras especialidades, em particular os da Medicina Geral e Familiar.
MJG
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