“Existe uma imagem muito hospitalocêntrica nas unidades locais de saúde (ULS), chegando mesmo a colocar-se os cuidados de saúde primários (CSP) numa posição quase subalterna e não de igualdade”, diz Nuno Jacinto. O representante dos médicos de família não está contra o modelo ULS em si, contudo, defende algumas mudanças para que haja interligação efetiva entre CSP e hospitalares.

“Devem ser criados mecanismos que permitem dar aos CSP o peso que lhes é devido”, o que implica a integração, em todas as ULS, de um representante dos CSP, “o que nem sempre acontece”. Falha o que diz ser “um maior equilíbrio entre o que é a realidade dos CSP e dos hospitais, da Medicina Geral e Familiar, da Saúde Pública e das especialidades hospitalares”.

O presidente da APMGF refere, inclusive, que, mesmo quando se começou “num ponto aceitável, as condições foram-se deteriorando ao longo dos anos”. Na sua perspetiva, o modelo ULS peca ainda por “depender muito das suas lideranças”.

Como especifica: “As lideranças são, obviamente, importantes e queremos ter bons gestores, mas deixar tudo muito dependente de determinadas pessoas, e sem se ter o mínimo de garantia de estabilidade e eficácia nos CSP, pode ser perigoso.”

Nuno Jacinto alerta também para a importância de se definir o papel de cada um dentro das ULS. “Não podemos ter ideias peregrinas de desviar recursos dos CSP, nomeadamente para resolver problemas das urgências hospitalares, (…) passando a ser a urgência a porta de entrada na urgência.”

Lembre-se que Lisboa e Vale do Tejo vai dispor das primeiras quatro Unidades Locais de Saúde (ULS) e o Norte terá mais três, passando a haver 20 no país que assegurarão respostas em saúde a mais de 25% da população, de acordo com a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS).

O anúncio feito em fevereiro por Fátima Fonseca, responsável pelos CSP na DE-SNS, tem suscitado algumas críticas, nomeadamente por parte do bastonário da Ordem dos Médicos. Carlos Cortes considera que existe uma “fraca integração” de cuidados e apela a que haja “uma maior valorização” da Medicina Geral e Familiar e da Saúde Pública.

Texto: Maria João Garcia

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