Em agosto, todos os caminhos vão dar ao Algarve. Neste mês em particular, este destino é inegável no roteiro dos turistas portugueses e internacionais, porque as nossas belas praias, o clima e as nossas paisagens e animação são sinónimo do momento do ano tão ansiosamente aguardado por milhares de famílias. O contributo do Algarve em 2022 (INE) para PIB do país teve um aumento de 21,3% face a 2021, situando-se em 11 624 mil milhões de euros. Este crescimento porventura está alinhado com o choque económico provocado pela pandemia na economia regional e sua consequente recuperação, sendo o aumento mais notório face a regiões menos dependentes do turismo.

O Algarve turístico contribuiu de forma expressiva para as receitas turísticas de 2023 em Portugal: a nível global, as receitas, segundo o TravelBI (Turismo de Portugal), alcançaram 25,1 mil milhões de euros (Portugal). E o Algarve em que medida alavancou os dados nacionais? Ora vejamos, este destino à beira-mar plantado teve mais de 5 milhões de hóspedes e 20 milhões de dormidas, sendo considerado o melhor ano turístico de sempre pela performance económica, sendo que tanto o REVPAR (revenue per available room) quanto a taxa de ocupação tiveram um desempenho interessante.

Poderia enumerar diversas razões da importância económica do Algarve e o seu efeito multiplicador em Portugal (seja no turismo ou o ramo imobiliário), mas existe uma parte de mim, enquanto algarvio, que sente e vive num Algarve com pouca ou nenhuma importância no panorama nacional. É verdade que esta região é uma peça fundamental no xadrez económico do país, porque existe num determinado período do ano um fluxo gigantesco de receitas, no entanto a nossa sazonalidade e a necessidade de diversificação económica são desafios já antigos, quase a parecer as histórias de embalar, mas que precisam de ser abordados de forma franca. E não só: precisamos de poder político que permita criar condições empresariais para o investimento na região.

O olho que tudo vê em Lisboa (onde tudo se decide) sabe que temos sempre o sol e as praias e estes fluxos. Se existisse compromisso com a região, viam a necessidade de termos uma linha ferroviária que facilite a mobilidade, um novo hospital central e veríamos o Algarve não só pela sua importância turística, mas também geográfica (construção naval, indústria conserveira, hub energético renovável, criação de clusters regionais agrícolas com o Alentejo, etc).

A infraestrutura da região, incluindo estradas e serviços públicos, não consegue acompanhar o crescimento sazonal da população, além de criar enormes pressões sobre os recursos naturais e o meio ambiente, sendo um desafio não só algarvio, mas nacional. Importa ressalvar que o Algarve, contribuiu para produção agrícola nacional, sendo o principal produtor de citrinos de Portugal. Mas mesmo neste prisma, o que falta ao Algarve? Muitos algarvios falam da importância da regionalização em alguns círculos. Será este o caminho? Não sou contra nem a favor, mas é necessário dar força política ao Algarve e um tecido empresarial menos desestruturado e sermos ouvidos na capital do “Reino” de Portugal.

Nunca é demais recordar, a não importância do Algarve. Estávamos no ano de 2022, no governo de Durão Barroso, quando por despacho, em setembro, foi criado o grupo interdepartamental para o lançamento da nova unidade hospitalar no Algarve, sendo o projeto no parque das cidades de Faro/Loulé. São 20 longos anos de espera e desespero por uma infraestrutura crucial ao desenvolvimento e cuidados de saúde da região.

As duas maiores dinâmicas (política/empresarial) não conseguem, isoladas ou em conjunto, fazer ouvir e concretizar as suas recomendações. O que é necessário? Há um desacreditar no Algarve e infelizmente vimos o que se passou nas eleições legislativas. Será necessário quase uma figura ou espírito de Afonso Henriques, “o Conquistador”, no Algarve para que algo seja realmente feito? Poderíamos falar do projeto da “bitola” andaluz, na qual o Algarve poderia ser conectado por ferrovia rápida a Sevilha (com acessos de Lisboa-Évora-Faro-Sevilha), projetos de apoio social à terceira idade, sem contar com um barrocal esquecido, ao abandono. Mas o turismo é um setor que dá projeção internacional e nem assim os deuses nos protegem. Agora questiono: o problema é do governo central ou nosso, enquanto algarvios?

O conhecimento é sem dúvida uma questão nacional, mas no Algarve exige não só alertas mas ações imediatas e urgentes. E deveríamos de exigir ao ministro da Educação, Ciência e Inovação e a este governo que a evolução económica e social estivesse interligada com o conhecimento e a criação de valor. Nesta medida, a nível nacional, relembrar que a taxa de abandono escolar é de 8% em 2023, e no Algarve, pasme-se, é somente uns meros 16%, a maior taxa de abandono escolar de Portugal. Que futuro terá o Algarve com este panorama macabro? Já que falamos em sustentabilidade nunca é demais relembrar que a União Europeia estabeleceu a meta de 2030 para ter uma taxa de abandono precoce escolar abaixo dos 9%. O plano “Mais aulas, mais sucesso”, sem dúvida é uma iniciativa com eixos de aplicabilidade que podem mitigar algumas realidades, mas será com resultados lentos, o que coloca em causa os princípios básicos da civilização que deveriam ser imutáveis: liberdade, igualdade e fraternidade.

Já dizia António Aleixo, poeta marcante para o Algarve, num dos seus poemas “(...) Porque o povo diz verdades, tremem de medo os tiranos, pressentindo a derrocada da grande prisão sem grades, onde há já milhares de anos, a razão vive enjaulada(...)”.

Em suma, o Algarve é vosso, nosso e meu e temos de saber lidar com diversos cenários positivos e menos positivos, dando uma palavra de apreço a todos o que sabem o que é viver numa região com enormes oscilações económicas devido aos picos turísticos e a todas as suas implicações na vida social e económica das empresas. O Algarve é turismo, mas também pescas, agricultura, barrocal, tecnologia e, sim, muito sol e qualidade de vida. Mas também é falta de água.

É fundamental não esquecer que o que faz da região um lugar único e vibrante são os algarvios. Lutemos por mais e melhor, porque ao estarmos bem, quem nos visita estará melhor.