Reagindo à notícia da TSF segundo a qual a ausência do Governo no terreno, na sequência dos distúrbios em vários bairros pobres dos arredores de Lisboa, foi combinada com o Presidente da República, Pedro Nuno Santos voltou esta segunda-feira ao final da tarde a atacar Luís Montenegro dizendo que "o Governo não se pode esconder atrás do Presidente da República".
O líder socialista falava em Caxias, Oeiras, no bairro social Francisco Sá-Carneiro, onde, acompanhado do autarca local, Isaltino Morais, concluiu um dia dedicado à questão da relação violenta que se estabeleceu entre moradores e PSP em bairros degradados em redor de Lisboa.
O dia incluiu de manhã e de tarde a visita a dois bairros da Amadora - começando pelo do Zambujal (onde vivia Odaír Moniz, morto pela PSP há duas semanas) e prosseguindo para a Cova da Moura - e terminou em Caxias, com Pedro Nuno Santos a enaltecer superlativamente o trabalho da associação "Gira no Bairro", que, funcionando dentro de uma esquadra da PSP, promove a ligação entre a polícia e a comunidade, além de diversas atividades de ocupação do tempo e promoção pessoal de crianças e jovens do bairro.
Pedro Nuno Santos teve a acompanhá-lo Isaltino - ao lado de quem até jogou matrecos contra uma dupla de miúdos - e no final voltou a salientar a ausência do Governo do terreno, criticando a tal suposta coordenação com o Presidente da República para ser este a ir aos bairros (foi no fim de semana sem avisar a comunicação social).
“A cooperação entre o Governo, o primeiro-ministro e o senhor Presidente da República tem que existir e, obviamente, faz sentido conversarem, mas um Governo não se pode desculpar de não vir ao terreno com uma conversa, um acordo ou uma articulação com o senhor Presidente da República”, acusou.
Depois disse que o trabalho da "Gira Bairro" deve ser "replicado" pelo país já que esta associação não só trabalha pelo sucesso escolar das crianças e jovens como os incentiva a que "não vejam a polícia como inimigo". "Toda a violência deve ser condenada" mas "há muito trabalho a fazer no combate à exclusão", disse - mas não sem pelo meio reconhecer também as dificuldades do trabalho policial ("ganham pouco e trabalham em situação muito precária").
Após a visita à associação, Pedro Nuno e Isaltino deram uma pequena volta pelo bairro, parando num café.
Aí, o presidente da câmara de Oeira explicou ao líder do PS e aos jornalistas presentes que, na sua percepção, o alastramento dos distúrbios para outros bairros que não os de origem (Zambujal e Cova da Moura) “não foi organizado” - foi antes "mimético", por efeitos de simples contágio a partir das imagens televisivas. Segundo explicou, Oeiras tem 20 bairros sociais e só em três se registaram distúrbios: Portela, Navegadores e Alto dos Barronhos.
Nesta altura, Pedro Nuno Santos já tinha salientado a importância dos autarcas no combate à exclusão social mas não sem deixar de responsabilizar o poder central: “É importante também que o Governo assuma as suas responsabilidades” porque “no final do dia quem tem mais recursos, mais meios para ajudar a promover a integração, a coesão é o Governo”.
Esta terça-feira, o secretário-geral do PS reunirá com sindicatos da PSP.